sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Terra de cegos, à procura de rei


Após as Finanças terem anunciado a relocalização de verbas concedidas ao abrigo de um financiamento para o anterior projeto de alta velocidade, a tutela dos Transportes demorou três dias a esclarecer as suas pretensões, promovendo assim a confusão e o ruído, que há décadas acompanham este projeto.
O projeto do TGV, tal como estava concebido “morreu e é uma decisão irreversível”, sendo que o que se pretende agora é “uma ligação ferroviária de mercadorias que ligue os portos do sul – Lisboa, Setúbal e Sines – a Madrid”, esclareceu a tutela.
A decisão, sendo assertiva e indo ao encontro das necessidades da Economia do País, necessita de mais esclarecimentos.
Se é certo que a grande maioria das mercadorias nacionais, e as que chegam aos portos, têm como destino o espaço ibérico e sabendo que, neste espaço, a rede ferroviária, os terminais e linhas portuárias são em bitola ibérica, questiona-se qual o tipo de linha mais adequado para atingir os objetivos pretendidos.
É que a fazer fé no comunicado emitido em fevereiro, pelo ministério da Economia, “continua o objetivo de investir numa rede de caminho-de-ferro, em bitola europeia, para transporte de mercadorias do porto de Sines para o resto da Europa, aproveitando o pacote de fundos comunitários que garante uma elevada taxa de comparticipação". Se assim é, pergunta-se qual a necessidade de uma linha de bitola europeia?
Certamente o Governo terá as suas razões, mas, tendo-as, fica obrigado a apresentá-las e a justificá-las, suportando-se numa visão global e integrada sobre papel do transporte ferroviário de mercadorias, na cadeia de valor do transporte e na economia nacional.
Tomar decisões, baseadas em critérios financeiros e de imediato bom senso, desconhecendo o modelo económico que se pretende atingir, é tomar o risco de continuarmos sem rei, numa terra onde a cegueira financeira impõe a decisão.
Talvez, também por isso, o futuro da CP Carga continue hoje sem solução à vista e com pouco interesse pelos investidores.
O País tem há muito a necessidade de ter um ambiente económico competitivo no transporte ferroviário, primordial para captar o interesse de investidores, fundamental para conquistar mais quota de mercado e necessário para alavancar a economia e as exportações.
"Conhecer o país onde se fará a guerra
é a base de toda a estratégia."
 Frederico II


Por José Monteiro Limão

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