quarta-feira, 10 de março de 2010

Aromas indefinidos

Em plena discussão das propostas do Governo apresentadas no Programa de Estabilidade e Crescimento, Portugal enfrenta a pior situação económica e financeira das últimas décadas.

Se a crise global colocou a nu o caos das finanças públicas e a enorme dívida pública, o que é certo, mas não assumidamente reconhecido, é que esta realidade é tão-somente o resultado de anos a fio sem qualquer estratégia ou rumo para o País.

Apostando apenas em meros objectivos tácticos que apenas servem fins muitas vezes políticos, Portugal há muito que ganhou o terrível hábito de pensar no imediato, perdendo a capacidade de visão global e de traçar objectivos estratégicos, que aglutine esforços e capacidades e coloquem o País no rumo de um desenvolvimento sustentado, potencializando capacidades que detém, criando riqueza e emprego e conquistando lugar na economia europeia e global.

O mar, o turismo, a floresta e as cidades são hoje sectores potenciais de crescimento e de riqueza que teimamos em não reconhecer como tal e para os quais continuamos a olhar com displicência.

Descuramos de sobremaneira a eficiência económica do Estado e insistimos em não definir estratégias para muitas das empresas públicas, em especial no sector dos transportes. Tratamos com ineficácia o território, não conjugando as valências económicas e sociais de modo a conferir às regiões novas capacidades para se tornarem factores positivos para a riqueza nacional.

Nesta época de forte contracção seria de esperar tudo. Subida de impostos, congelamento dos salários, privatizações, etc. Mas seria também de esperar a apresentação de estratégias sectoriais que apontassem caminhos para objectivos concretos, que englobassem planos de acção objectivos e de efeitos imediatos.

Mas como fiéis e rigorosos seguidores de uma tradição há muito enraizada na nossa cultura, ficamo-nos pela metade das medidas, descurando uma vez mais nas alterações e definições necessárias que nos façam não apenas estancar a hemorragia mas que curem e tratem a ferida.

No que toca ao sector dos transportes e da mobilidade pouco se sabe do que irá acontecer de novo ou diferente, tanto nas empresas públicas como na reformulação do sector.De concreto apenas ficamos com um ténue e indefinido aroma de um Grupo de Missão, vagamente anunciado, formado por ainda não se sabe quem e que tem a seu cargo uma nebulosa e difusa missão de apontar caminhos para uma maior intermodalidade e sustentação económico-financeira do sistema de transportes.

Como disse: Um objectivo sem um plano, é só um desejo.

Por José Monteiro Limão

in TR 84, Fevereiro de 2010

Sem comentários:

Enviar um comentário