quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A teoria da prática

Os últimos indicadores económicos, divulgados pelas diversas entidades internacionais, apontam para uma retoma da actividade económica e, consequente do crescimento mundial com base em alguns, ainda ténues, sinais de retoma do consumo e consequentemente, da actividade produtiva.

Não estando ainda fechada a porta da crise, estas são boas notícias, que indicam novos caminhos e apontam novos azimutes para que os países definam os seus objectivos estratégicos, implementem tácticas e instrumentos para que, de forma consolidada e concertada, atinjam mais riqueza e com isso mais crescimento e qualidade de vida para os cidadãos.

Não tenho dúvidas que esta é uma consideração consensual e que merece a concordância de todos. No entanto, consubstanciar em medidas efectivas e reais o atrás descrito é tarefa que nem todos os países o conseguirão fazer. Se, por um lado, muitos ainda não têm uma sociedade cultural e economicamente desenvolvida e no caminho da competitividade, outros, já mais adiantados nos padrões de qualidade de vida, de consumo e da actividade económica, ainda lhes falta cultura de visão estratégica ou de colocarem como prioritário objectivos de médio e longo prazo que lhes trace caminhos e rotas que lhes proporcionem um lugar central na competitividade global.

A apresentação pública do estudo sobre o Hypercluster do Mar, elaborado pela equipa da SAER e coordenado pelo Prof. Ernâni Lopes, durante o Green Festival, que se realizou em Setembro no Estoril, é bem o exemplo daquilo que deveríamos fazer no tocante a definições estratégicas, que tragam mais-valias económicas, geo-estratégicas e políticas para Portugal.

O Mar, que representa em Portugal a grande fatia do território nacional, não tem, por parte do Estado, qualquer lugar na estratégia do País ou qualquer importância de valor na economia nacional. Como bem ficou demonstrado na apresentação realizada (ver em www.transportesemrevista.com) os inúmeros e potenciais “clusters” ligados ao mar poderiam ou poderão colocar Portugal como um dos grandes agentes, à escala global, nas questões do mar e da sua economia.

Numa altura em que um novo ciclo governamental vai ter início, e onde nenhuma das organizações partidárias tenha abordado esta temática nos seus programas ou estratégias, devemos colocar em reflexão a razão para tal desprezo em relação ao mar.

Se todos concordam com as potencialidades e o valor económico do Mar, porque razão não temos definido uma estratégia, um desígnio? Porque não abordamos a economia do mar como um dos vectores fundamentais que colocam o País na centralidade do globo como um dos países do mundo com maior território marítimo?

Todos concordamos com isto, mas lembro-me sempre das palavras de Miguel Anacoreta Correia que regularmente diz: “Na prática, a teoria é outra”. Por José Monteiro Limão

Sem comentários:

Enviar um comentário