A entrada de entidades privadas em áreas de
atuação tradicionalmente asseguradas pelo Estado é sempre um processo de
elevada complexidade. No caso do setor dos transportes e, em
particular, no dos transportes públicos, a complexidade é elevada ao extremo,
pois além das questões financeiras que as empresas públicas apresentam (leia-se
dívida acumulada), há que assegurar a viabilidade económica de todo o sistema e,
nesse sentido, alterar profundamente a estrutura da organização institucional, assim
como definir as suas competências e capacitá-la de instrumentos eficazes para a
prossecução dos seus objetivos e funções. Além disso, é ainda necessário alterar
e adequar a moldura que regula esta atividade, não descurando a incorporação dos
legítimos interesses, expetativas e ansiedades de todos os agentes. É, assim,
fácil de entender o grau de complexidade da teia que o Governo tem entre mãos. Poder-se-á questionar quais as razões de, só agora, o Governo ter encetado todo este processo, elevando as ansiedades e expetativas
dos agentes económicos e de todo o setor, quando o anunciou logo no início da
legislatura.Poder-se-á também questionar quais as razões da
lentidão de todo este processo ou até mesmo colocar em causa a sua exequibilidade,
mas o que é facto, concorde-se ou não com a forma ou com o ritmo, é que o
processo de concessão a privados da operação das empresas públicas de
transporte está a fazer o seu caminho.
As inúmeras respostas à recente consulta pública,
lançada pelo Governo a propósito das concessões dos serviços urbanos de
transportes em Lisboa e no Porto, não sendo vinculativas, vêm demonstrar a
existência de muitos mais interessados do que aqueles que publicamente já o
haviam anunciado, demonstrando assim haver apetite e interesse. Se parece ser evidente a existência de
interesse por parte do mercado, resta saber se o modelo e condições para as
concessões, que o Governo venha a definir, assegura apenas o estrito interesse
financeiro do Estado ou se incorpora o objetivo da criação de um verdadeiro e
mais amplo mercado de fornecedores de serviços de transporte, garantindo, assim,
mais concorrência, mais competitividade e mais garantias de defesa do interesse
do consumidor final. Na frente da organização institucional, a recente aprovação dos estatutos da AMT e
IMT é um grande passo em frente, estando por terminar a revisão do RTA, que se
encontra em curso. Quanto ao resto, falta saber tudo. Desde logo, saber quando é que o Governo considera estarem reunidas as condições para que tudo o que ainda não foi feito, o seja. "Se
esperas pelas condições ideais, elas nunca ocorrerão.
Nelson Mandela
Por José Monteiro Limão
segunda-feira, 31 de março de 2014
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