quarta-feira, 10 de abril de 2013

O risco da ilusão


Recentemente, o Governo apresentou o projeto do novo terminal de contentores da Trafaria, que tem como objetivos a requalificação do ordenamento do porto da capital, a promoção da concorrência entre agentes e a captação de trafego internacional marítimo que passa por águas geridas por Portugal.
O investimento, estimado em cerca de 600 milhões de euros, será assegurado, na sua maioria, por entidades privadas, através de um concurso que será lançado até final do ano. Por outro lado, o projeto prevê o escoamento das mercadorias tratadas neste terminal pelo modo ferroviário.
A presença, na sessão de apresentação deste projeto, de três ministros e outros tantos secretários de Estado, conferiu ao projeto a circunstância devida a este investimento, que o Governo acredita trazer enorme valor para a cidade, região e País.
Em tempo de vacas magras, tanta fartura fez despoletar aquilo que temos em demasia - a crítica e a desconfiança de uns e a falta de informação e clareza de outros.
Utilizando o termo da moda, a “narrativa” apresentada fez levantar os arautos da clarividência.
Se os primeiros argumentos apresentados foram a necessidade do fecho da golada e da arriba fóssil, logo o argumentário alargou-se à localização do terminal e ao seu desenho, aos impactos ambientais, às alterações provocadas nas cadeias logísticas instaladas e à insustentabilidade económica do investimento e operação ferroviária.
Muitas destas dúvidas são pertinentes e têm razão de ser; de facto, a informação disponibilizada é demasiado curta para aferir a viabilidade da opção.
Por outro lado, a ausência de qualquer informação adicional, mesmo à posteriori por parte do promotor sobre o tipo de mercadorias, fluxos e destinos, além da falta de explicação sobre o modelo de terminal a implementar, suas valências, os investimentos assegurados pelo Estado (entre outras), contribuíram de forma notória para o crescendo das críticas, o cimentar da desconfiança e o descrédito da opção.
Os tempos que vivemos aconselham a que qualquer Governo, explique, informe e clarifique as escolhas, promovendo assim não apenas as opções mas também o envolvimento de todos os agentes sob pena de deixar correr o pensamento que, afinal, foi a agenda política que determinou a apresentação de algo que não passa de uma grande ilusão.
"O grande perigo que corremos, iludindo os outros,
 é que acabamos por nos iludir"


Por José Monteiro Limão

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