quarta-feira, 25 de julho de 2012

O murro no estômago


Ao ser conhecida a execução orçamental deste ano, o País deparou-se com mais uma derrapagem, desta feita originada pela diminuição das receitas fiscais, fruto do abrandamento da atividade económica, mas também devido ao acréscimo da despesa por via do forte crescimento do desemprego e consequente aumento da despesa das prestações sociais.
Não entrando na controvérsia das razões que levaram a que houvesse “medidas para além da troika”, ou mesmo da inadequação do plano que esta impôs ao País, o certo é que, depois de muitas medidas de austeridade, levadas a cabo neste primeiro ano do Governo, os portugueses levam agora mais “um murro no estômago”! E que murro!
É verdade que ninguém prometeu facilidades ou ausência de riscos na adoção do programa de ajustamento que Portugal vive, mas certo é o facto que, até agora, a grande parte das medidas vêm do lado da receita e da redução da despesa, sendo esta última centrada na redução de benefícios e prestações. Não seria verdadeiro se não afirmasse que também a despesa corrente do Estado sofreu cortes significativos.
Mas, aqui, impõe-se a pergunta: Pode o Estado ir mais além nestes cortes?
A resposta é óbvia! Sim, pode ir muito mais longe! E, desde logo, o setor dos transportes pode, e muito, contribuir para esses cortes e reduções.
O Governo tem em curso um vasto e ambicioso programa de reformas e reestruturações no setor, que visam a sustentabilidade financeira e a redução da despesa que com ele tem. Um novo desenho para a organização institucional, que falta implementar; a alienação, financiamento e reestruturação de algumas empresas e entidades públicas, que pela sua complexidade e dificuldade, demorará tempo a executar; além da renegociação das PPP’s, que ainda fará correr bastante água debaixo da ponte... Há muito ainda por fazer!
Neste Governo existe ambição, vontade e determinação em reformar, mas a verdade é que estes atributos, por si só, não contribuem para o “tapar” do “buraco”.
Conscientemente teremos de reconhecer que todos estes processos são morosos e detêm graus de elevada complexidade a diversos níveis e em diferentes áreas.
A questão a colocar é se as opções tomadas, os modelos escolhidos e os caminhos já trilhados são os mais adequados às necessidades do setor, da economia e do País.
O recente e caricato episódio do Metro do Porto arrepia e, se assim foi para a escolha de uma simples equipa de gestores, como será para processos complexos de reestruturação e reformas?
É que, já chega de “murros”, não tanto por estes, mas simplesmente porque tendemos a deixar de ter “estômago”. Por José Monteiro Limão

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