À beira da aprovação do Orçamento de Estado mais duro e difícil de executar das últimas décadas, torna-se claro e evidente que o próximo ano vai ser o pior desta crise e, provavelmente, o mais violento desde a Revolução de 1974.
Tendo na mira a redução obrigatória da despesa (em tudo o que sejam benefícios ou custos) e como alvo o aumento de receitas, diretas ou indiretas, o País está prestes a conhecer o que será, de facto, uma forte recessão que terá impactos transversais em tudo e em todos.
Muitos ainda não interiorizaram a realidade de um futuro cada vez mais próximo, tendo apenas reparado, e quase sempre sob forma de contestação, nas reformas a efetuar, nas alterações anunciadas e nas mudanças já decididas. Em pouco tempo, o Pais terá de fazer o que poderia ter sido feito em muitos anos, de forma gradual, progressiva e continuada.
O próximo ano será diferente e tudo será bastante pior. É bom que todos tenhamos a consciência de que nada será como dantes. A ilusão do sonho, do desejo e do facilitismo dará lugar, ou melhor, já deu lugar, às mudanças violentas de que o País necessita para retomar caminhos e rotas com destino à sustentabilidade e ao equilíbrio das nossas contas. Teremos mesmo de o fazer, sem dinheiro, com pouco crédito, mesmo muito pouco, e sem tempo!
A recente aprovação do Plano Estratégico de Transportes, por pior que tenha sido elaborado, discutido e apresentado, denota já a mudança em muitas das grandes linhas de atuação nos próximos anos. O congelamento das grandes obras públicas, a reestruturação do setor empresarial do Estado e o esforço no reequilíbrio económico e financeiro do setor são as tónicas marcantes do documento. Mas, convenhamos, em boa hora o atual Governo, com coragem e com a imposição do memorando, quer trazer mais racionalidade e mais desenvolvimento económico ao setor e ao País. A recente decisão de conferir prioridade absoluta às mercadorias através do uso da ferrovia, nas linhas de alta velocidade, velocidade elevada ou, na designação da moda, em linhas de alta prestação, é um claro indício da mudança e um bom sinal dado ao setor. Mudança porque aumenta a capacidade e eficiência do sistema de transportes, mas também porque reforça e alarga os hinterlands do sistema portuário nacional, colocando-os na primeira linha e entre os primeiros destinos europeus da carga internacional.
Não querendo descer às questões de âmbito técnico que esta mudança acarreta, diria que, a prazo, todo o setor - e falo de todos os modos e de todos os elementos da cadeia logística - tem a oportunidade de encontrar novos posicionamentos e novas formas de prestar melhores e mais serviços, com menores custos e, muito provavelmente, com mais resultados, através do recurso à intermodalidade ou à comodalidade. Esta será, se todos quisermos, uma mudança que pode trazer enormes benefícios e vantagens para os empresários, para os Clientes e para o País. Isto sim é alta prestação!
Basta para isso que tenhamos a vontade de querer mudar e como alguém diria: "O homem absurdo é aquele que nunca muda." Por José Monteiro Limão
Sem comentários:
Enviar um comentário