sexta-feira, 8 de abril de 2016

A realidade

Recentemente, em mais uma das suas visitas a Portugal, Steen Jakobsen, economista-chefe do dinamarquês Saxo Bank, em entrevista ao jornal Observador questionou no seu estilo peculiar: "Como é que se chega a um crescimento de 2% a reverter as reformas de aumento da produtividade que foram feitas, a reverter as poucas coisas boas que foram feitas?".
A sua previsão é a de que "com sorte" o PIB português crescerá 1%, metade das previsões do Governo, esplanadas no Orçamento de Estado.
Considerado um dos ortodoxos da finança europeia e não tendo meias palavras para dizer o que pensa, o economista traça a evolução do quadro económico e aponta a pouca influência que os políticos têm sobre o que se passa, realmente, na economia.
Aconselho vivamente a leitura desta entrevista, pois revela a racionalidade das gentes dos tais países do norte da Europa, que apostam no Estado Social, e que as nossas lideranças teimam em apontar como exemplos, mas que nunca os seguem na realidade.
É sabido que uma das condições para haver crescimento é a abertura da economia e o aumento da produtividade. E ambas são tudo!
Ora, o que se vê por cá é tudo... menos isso.
Por cá, assiste-se a uma redistribuição dos rendimentos e à reversão das reformas que foram feitas - ainda que poucas, face à dimensão das necessárias. Ou seja, distribui-se o mesmo por outros e com acréscimo na despesa, aumentam-se os impostos que atrofiam o crescimento económico e volta-se ao ponto de partida das reformas estruturais, o que significa voltar atrás, afirmando-se, pasme-se, que se está a tratar do futuro.
Por isso, Steen Jakobsen não tem dúvidas em afirmar que "o caminho que parece que está a ser seguido não é o que vos tornará uma sociedade mais aberta, com maior progresso".
Os indicadores da Economia portuguesa já demonstram que os números caíram no quarto trimestre de 2015 e no primeiro de 2016.
Teimamos no mesmo método de processos de decisão, colocando em causa tudo o que foi feito, discutindo outra vez tudo de novo, para que no fim da legislatura quase nada mude.
A política de transportes parece padecer do mesmo mal, pois ao adiar a abertura do mercado, continua-se a não promover a produtividade, acreditando que a continuidade de empresas públicas no sistema será, a partir de agora e por milagre, diferente, sendo uma fatalidade que a sua existência tenha de ser suportada pelos impostos que todos pagamos.
É positiva a continuidade da reforma que impõe a delegação de competências na organização dos sistemas de mobilidade para os gestores dos territórios, mas olhando para os diversos planos de mobilidade, que por estes dias terão de estar “fechados”, fica-se com a noção que pouco, muito pouco, será diferente, pois de mobilidade sustentável a maior parte fica-se pelos modos suaves. De transportes, de redes e de sistemas de mobilidade, nada!
Voltando a Steen Jakobsen, pergunta ele: “Porque é que Portugal tem dos melhores vinhos do mundo e não conseguimos comprá-los em lado algum? Alguma coisa está mal com o modelo económico. Um pouco de esforço e imaginação adicional podem fazer toda a diferença.
Não são terras que nos faltam. Não é de conhecimento que necessitamos, pois as uvas têm qualidade e os vinhos são fantásticos. São modelos  sustentáveis que nos faltam. É o equilíbrio entre o “deve e haver“, entre o “desejável e o possível” que por cá, teimamos em descurar, como se não fosse crítico, como fosse coisa sem importância, um pormenor.
E nestas coisas, como em todas as outras quando de economia se trata, “há que alinhar a economia e a expectativa das pessoas com aquilo que é a realidade. E a realidade é produtividade, é educação, é abertura”.

A preocupação de ligar a mobilidade ao território e ao ambiente é de aplaudir, mas a sustentabilidade, não pode ser apenas encarada na energia e no ambiente. Por José Monteiro Limão

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