segunda-feira, 14 de setembro de 2015

As nossa (in)capacidades

A CP Carga foi vendida. Contra os agoiros de muitos que afirmavam que a empresa não tinha valor; contra os opositores da solução que nunca entenderam a obrigatoriedade da venda; contra um setor recheado de técnicos especialistas, académicos e teóricos, gestores com experiência; contra muitos dos trabalhadores e, principalmente, contra os sindicatos que nunca querem fazer parte de qualquer solução, a CP Carga acabou por ser vendida, a meses do fim da legislatura. Indignação, desilusão, apreensão e pena foram, porventura, sentimentos comuns a muitos de nós.
Enquanto cidadão tive pena, muita pena, que o único fim possível tivesse sido este. Ouvi inúmeras teorias, estratégias, planos e modelos de salvação para a empresa, mas todos eles desvalorizavam um erro antigo e que fez parte integrante do seu código genético: a capacidade de gerir o ativo.Desde a revolução de Abril, o Estado teve a capacidade ímpar de o desvalorizar de forma militante e continuada. O atual Governo, obrigado pela Troika, teve a capacidade de o vender, não sem antes encontrar formas criativas e com maestria de o valorizar. Por último, o setor empresarial português também não encontrou capacidade para, no todo ou em parte, o tomar em mãos. Mais uma vez ficou demonstrada a incompetência de muitos, a habilidade de alguns e a fragilidade ou falta de rasgo de outros.
Este pode ser o resumo da história de uma empresa, que na minha singela opinião, representa um valor estratégico para a Economia superior ao da TAP. A diferença da notoriedade de ambas as empresas e sua visibilidade junto da população, terão, por certo, contribuído em muito para a perceção contrária.
Sendo esta opinião discutível, julgo ser consensual o reconhecimento do altíssimo valor estratégico que tem o transporte ferroviário de mercadorias como pilar, e alavanca desbloqueadora, do sistema portuário nacional.
Este setor é essencial para exponenciar as capacidades que o País tem e pode ter para que se afirme como um hub do comércio à escala ibérica e europeia, e como lugar de referência no comércio marítimo mundial, capitalizando o valor do seu posicionamento geoestratégico.
É bom de ver e fácil de entender. Basta recordar que quando assim olhámos para Portugal, crescemos como povo e nação e demos novos mundos ao mundo. Esta foi nossa incapacidade!
A CP Carga foi vendida! E agora? Portugal perdeu ou ganhou? Perdeu alguma coisa, mas acredito que ganhou mais! Perdeu a propriedade do ativo e a tempo o destino deste. E sob esse ponto de vista... lá se vai mais um anel!Mas ganhou mais! Ao ser adquirida por um armador global, fortemente posicionado em Portugal e Espanha - e com a ambição de alcançar a liderança ibérica no transporte ferroviário de mercadorias - a empresa vai assegurar através dos fluxos próprios em Portugal e Espanha e dos existentes nos dois mercados, que Portugal se afirme como presença incontornável na cadeia de comércio ibérico, europeu e mundial.
Acredito que os novos proprietários tragam mais sucesso, mas o setor está expectante em perceber a força e a autoridade do regulador na promoção da livre e sã concorrência e da defesa intransigente do interesse nacional.
Uma palavra final. Estou curioso para saber quanto tempo a Autoridade da Concorrência vai levar a dar o seu parecer sobre a venda da CP Carga, tendo em conta os três anos que demorou a identificar os constrangimentos do setor portuário, identificados pelo Governo nos seus primeiros seis meses de mandato. Por José Monteiro Limão

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