segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Ventos contrários

Se alguma dúvida havia quanto à realidade da crise, os factos evidenciam a sua presença. Diariamente somos confrontados com notícias de encerramentos de fábricas e empresas, provocando uma onda de novos desempregados. Por todo o País, de norte a sul, pessoas e famílias são surpreendidas pelo encerramento da empresa onde trabalham. De um dia para o outro, as suas vidas sofrem um verdadeiro “tsunami”, esmagando-as com o drama de não terem como suportar os encargos da sua vida. Empresas que eram modelos de sucesso apenas há uns meses estão hoje condenadas ao encerramento. Duzentos aqui, setecentos ali, mais dois mil acolá, o desemprego aumenta vertiginosamente.
A fúria consumista do passado foi agora substituída pela retracção, provocando uma quebra abrupta da produção, obrigando muitas fábricas a paragens forçadas, provocando, em outras, quebras insustentáveis no seu equilíbrio económico-financeiro, obrigando-as ao encerramento. Menos produção, significa menos transporte de matérias-primas e menos transporte de produto final.
O anúncio da imobilização de cerca de 15.000 camiões por todo o País é apenas um dos reflexos desta onda. Mas esta paragem não significa apenas uma quebra na actividade do sector ou das empresas. Esta paragem significa que cerca de 15.000 profissionais e mais uns quantos milhares de administrativos correspondentes, poderão ficar no desemprego.
Se os cerca de dois mil desempregados previstos com o encerramento do maior exportador nacional abrem telejornais, são capas de jornais e fazem movimentar ministros e governos, que efeito terão os cerca de 20.000 do sector dos transportes?
A recente tensão entre o sector dos transportes e a tutela a propósito do alegado incumprimento das promessas feitas pelo Governo aquando das paragens realizadas no ano passado, são um claro sinal do desequilíbrio e das dificuldades que o sector vive.
Mesmo com a reafirmação das promessas anteriormente feitas, mas ainda não implementadas e portanto sem qualquer efeito prático, o certo é que a nuvem negra provocada pelos cerca de 20.000 potenciais desempregados que o sector pode gerar a curto passo apenas levam o nosso governo a reagir lenta, vagarosamente e até com alguma indiferença.
É em situações como esta que faz toda a diferença um Estado flexível e ágil e um sector moderno e dinâmico. O primeiro porque, num curto espaço de tempo, tem capacidade de definir e implementar medidas que contrariam as tendências e criam resistências e defesas às empresas; o segundo porque aproveita os ventos contrários para reorganizar a sua actividade, implementar parcerias e criar novas sinergias.
Os ventos da tempestade instalada não esperam por medidas ainda em reflexão ou análise. Ventos contrários necessitam de uma rápida adaptação das velas para uma navegação segura em direção ao porto.

Por José Monteiro Limão
in TR 71; Janeiro de 2009

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