Na
recente visita do grupo de inquérito do Parlamento Europeu à intervenção da
troika, e durante um encontro com estes, o governador do Banco de Portugal
informou que, entre o final de 2012 e outubro de 2013, o endividamento das
empresas públicas aumentou mais de 1,1 mil milhões de euros e que, desde o
inicio do programa de assistência financeira, aumentou cerca de 565 milhões de
euros.
Ainda
nesta apresentação aos deputados europeus, o governador deu nota de que a situação
até apresentou melhorias durante a segunda metade de 2012, mas que, em 2013,
voltou a deteriorar-se, à medida que o Estado foi reconhecendo as novas dividas,
no âmbito da reestruturação das empresas e dos cortes nas transferências
correntes, acordadas anteriormente com a troika.
Já em
finais do passado ano o Conselho de Finanças Públicas tinha alertado para as
consequências que poderia ter a integração de mais empresas do Estado nas
contas nacionais, a partir de 2014. As estimativas apontavam para um impacto de
cerca de 5.5 mil milhões de euros na divida pública, correspondendo a um
agravamento de 3,4% do PIB. Para ajudar a ter a ideia da dimensão e impacto,
este montante é equivalente à receita com as privatizações previstas no
memorando, mas é um valor que ainda está longe de ser suficiente para “limpar”
toda a divida do setor empresarial do Estado.
Neste
filme de terror, as EP´s do setor dos transportes são campeãs e garantem grande
parte desta divida, criada e acumulada ao longo de décadas.
Este é o
cenário dantesco que está em cima da mesa e que, de múltiplas e variadas formas,
tem, certamente, condicionado algumas das decisões, nomeadamente, na abertura
das operações de transporte público ao setor privado, pese embora o tortuoso
caminho encetado no processo de fusões operacionais, cujos resultados são de
duvidosa eficácia.
Ainda
assim, a Tutela encetou a não menos complexa tarefa de conferir ao setor um
novo desenho institucional, alterando competências de entidades já existentes e
criando novas entidades reguladoras, por forma a conferir mais transparência e
competitividade. Também aqui a coisa está emperrada, pois além da enorme
confusão criada, causou um enorme desnorte nas entidades existentes, não
sabendo estas quais são, afinal, as suas competências e muito menos as formas
de articulação entre elas. Se adicionarmos a isto a demora na promulgação dos
estatutos das novas entidades e a redefinição das já existentes, fica completo
o quadro atual de incerteza e confusão generalizada que hoje impera.
Percebe-se,
assim, a genuína felicidade que o atual responsável da Tutela dos Transportes afirma
que sentirá se, ao terminar o seu mandato, deixar a arquitetura organizacional
desenhada e a funcionar de forma eficiente. No entanto, temo que a determinação,
vontade e empenho demonstrados não sejam suficientes para que tal aconteça,
visto que muitas das decisões são fatores exógenos às suas competências,
estando assim capturado por outras agendas e prioridades.
Ainda assim, faço votos que atinja o pleno da felicidade, pois ao
atingi-la, ficaremos todos melhor, mesmo sabendo que, como dizia Virgílio
Ferreira:
"Há o desejo, que não tem
limite, e há o que se alcança, que o tem.
A felicidade consiste em fazer
coincidir os dois."
Por José
Monteiro Limão
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