Recentemente, em mais uma das suas
visitas a Portugal, Steen Jakobsen, economista-chefe do dinamarquês Saxo Bank, em
entrevista ao jornal Observador questionou no seu estilo peculiar: "Como
é que se chega a um crescimento de 2% a reverter as reformas de aumento da
produtividade que foram feitas, a reverter as poucas coisas boas que foram
feitas?".
A sua previsão é a de que "com
sorte" o PIB português crescerá 1%, metade das previsões do
Governo, esplanadas no Orçamento de Estado.
Considerado um dos ortodoxos da
finança europeia e não tendo meias palavras para dizer o que pensa, o
economista traça a evolução do quadro económico e aponta a pouca influência que
os políticos têm sobre o que se passa, realmente, na economia.
Aconselho vivamente a leitura desta
entrevista, pois revela a racionalidade das gentes dos tais países do norte da
Europa, que apostam no Estado Social, e que as nossas lideranças teimam em
apontar como exemplos, mas que nunca os seguem na realidade.
É sabido que uma das condições para
haver crescimento é a abertura da economia e o aumento da produtividade. E
ambas são tudo!
Ora, o que se vê por cá é tudo...
menos isso.
Por cá, assiste-se a uma
redistribuição dos rendimentos e à reversão das reformas que foram feitas -
ainda que poucas, face à dimensão das necessárias. Ou seja, distribui-se o
mesmo por outros e com acréscimo na despesa, aumentam-se os impostos que
atrofiam o crescimento económico e volta-se ao ponto de partida das reformas
estruturais, o que significa voltar atrás, afirmando-se, pasme-se, que se está
a tratar do futuro.
Por isso, Steen Jakobsen não tem
dúvidas em afirmar que "o caminho que parece que está a ser seguido
não é o que vos tornará uma sociedade mais aberta, com maior progresso".
Os indicadores da Economia portuguesa
já demonstram que os números caíram no quarto trimestre de 2015 e no primeiro
de 2016.
Teimamos no mesmo método de processos
de decisão, colocando em causa tudo o que foi feito, discutindo outra vez tudo
de novo, para que no fim da legislatura quase nada mude.
A política de transportes parece
padecer do mesmo mal, pois ao adiar a abertura do mercado, continua-se a não
promover a produtividade, acreditando que a continuidade de empresas públicas
no sistema será, a partir de agora e por milagre, diferente, sendo uma
fatalidade que a sua existência tenha de ser suportada pelos impostos que todos
pagamos.
É positiva a continuidade da reforma
que impõe a delegação de competências na organização dos sistemas de mobilidade
para os gestores dos territórios, mas olhando para os diversos planos de
mobilidade, que por estes dias terão de estar “fechados”, fica-se com a noção
que pouco, muito pouco, será diferente, pois de mobilidade sustentável a maior
parte fica-se pelos modos suaves. De transportes, de redes e de sistemas de
mobilidade, nada!
Voltando a Steen Jakobsen, pergunta
ele: “Porque é que Portugal tem dos
melhores vinhos do mundo e não conseguimos comprá-los em lado algum? Alguma
coisa está mal com o modelo económico. Um pouco de esforço e imaginação
adicional podem fazer toda a diferença.”
Não são terras que nos faltam. Não
é de conhecimento que necessitamos, pois as uvas têm qualidade e os vinhos são
fantásticos. São modelos sustentáveis
que nos faltam. É o equilíbrio entre o “deve e haver“, entre o “desejável e o
possível” que por cá, teimamos em descurar, como se não fosse crítico, como
fosse coisa sem importância, um pormenor.
E nestas coisas, como em todas as
outras quando de economia se trata, “há
que alinhar a economia e a expectativa das pessoas com aquilo que é a
realidade. E a realidade é produtividade, é educação, é abertura”.